segunda-feira, 2 de março de 2015

RAUL CAPITÃO (PARTE V), ÚLTIMA PARTE

Cícero Lajes (historiador) - Amante que sou da historiografia local, há algum tempo pesquiso sobre pessoas, lendas, histórias, etc, para escrever causos locais. Ano passado, o estudante Ermenegildo Neto, achou uma edição da Revista Bzzz que muito me interessou, ela dedicou 8 páginas ao Lendário Raul Capitão. Eu dividi a matéria em 5 postagens, segue a quinta e última. 

                                Foto: Revista Bzzz
 Escrito por Alice Lima - Fonte: Revista Bzzz, Março de 2014, ano 2, nº 9.

Para uma vida de excessos, as consequências às vezes tardam, mas aparecem. E com Raul não foi diferente. Em primeiro lugar, a saúde. A bebida o levou ao vício e o alcoolismos tomou conta por volta dos seus 55 anos. Começava beber religiosamente às 10h e só parava às 17h, quando ia dormir. Nesse intervalo, deixava de fazer negócios e multiplicar a fortuna para ir ao bar. A bebida escolhida variava com o período. Passeava pelo vinho, cerveja e uísque, em uma lógica só dele. Pela personalidade forte, a família nunca ousou interferir, pois não adiantaria. Nesse ritmo, quando ficou mais velho, precisou enfrentar a vida com o mal de Parkinson.

Aliada ao mal da bebida, viu a scheelita se desvalorizar e perdeu toda a produção de algodão da fazenda Ingá, na cidade de São Tomé. A "praga do bicudo", besouro de origem africana, dizimou plantações do Rio Grande do Norte no início dos anos 80. Foi a derrocada financeira da família. Restaram terras e casas em Lajes, Natal e Parnamirim, mas o tempo da conta bancária sem limites dava adeus.

Por fim, o amor e o ciúme destruidores. Entre casos conjugais sem importância, Raul se apaixonou perdidamente por _ _ _ _ _ (o nome consta na revista,  mas me permitam preservar a identidade da amante), o que, de acordo com a família, foi sua grande desgraça. O único período em que se afastou dos seus, pois ela morava em Natal. A ela, deu carro, casa e a paixão descontrolada.

Desconfiado de que a amante estaria com outro namorado, Raul saiu armado para matá-lo. O alvo era Ivan Cardoso de Carvalho, pai do deputado estadual Gustavo Carvalho (Pros - RN). Alcoolizado, ao chegar à cidade de Poço Branco, mirou naquele que considerava seu rival, mas atingiu o colega Paulinho Baé, que ficou entre os dois e morreu na hora.

Raul contou à família e se entregou à polícia poucos dias depois. Sempre assumiu a culpa, mesmo com orientações iniciais para que a atribuísse aos capangas. O destino do homem foi a Penitenciária João Chaves, hoje desativada, que ficou conhecida como "Caldeirão do Diabo".

O desembargador aposentado Caio Alencar, na época promotor do caso, lembra o dia marcante do julgamento. "Foi um crime que despertou a curiosidade de muita gente. O júri estava completamente lotado. O advogado de defesa era Cortez pereira e o juiz Sábato Barbosa", recordou Alencar.

O réu foi condenado a 26 anos de prisão. "Na João Chaves, papai fez amizade com a família e Joca Sininha, mas ele não ficava na cela, vivia passeando, inclusive no lado de fora. Saía para passar o final de semana na fazenda e acabou não voltando mais" , lembra a filha Maria de Fátima, que por um ano levou o café da manhã ao pai todos os dias. Reza a lenda que foi maltratado pelo famoso bandido à época chamado "Brinquedo do Cão".

Foi com o crime que Raul terminou a fortuna. Saiu distribuindo o dinheiro com todos os que pudessem facilitar a sua saída da prisão, de forma oficial e às escondidas. Foi na chácara em Parnamirim, onde atualmente mora parte dos filhos, que ele passou os últimos dias, e não no presídio no qual deveria cumprir sua pena em regime fechado.

E, como as mortes mais poéticas, o homem lendário, que explorou a vida em todas as formas, morreu dormindo, aos 78 anos, sem alardes, cenas de barbárie ou de vingança as quais se esperam do fim de um preso condenado pela justiça. Quem sabe é esse o último dos paradoxos de Raul Capitão, a lenda, que fugiu do padrão até no último adeus.

                                           Foto: Revista Bzzz

A relação com a esposa... Maria era daquelas mulheres típicas do interior de tempos passados, criadas para casar e ter filhos. Daquelas que as músicas de Chico Buarque descrevem bem: uma Amélia, que todo dia fazia de tudo sempre igual. Foi uma grande companheira e tudo fez pelo seu Capitão. Não se deslumbrou com o dinheiro, cuidou dos filhos e teve uma vida triste, como lembra Maria de Fátima. "Mamãe morreu triste, vítima de câncer, aos 64 anos".

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